Quantas vezes por esta esquina passei, na certa ela lá estava, eu devo tê-la visto, mas nunca verdadeiramente a olhei.
Hoje ao lhe alcançar a moeda, nossos olhos se encontraram, não sei por que, mas eu a olhei e vi sua mão pequena, suja, machucada, enquanto meus dedos, ela levemente tocava.
-Sabe tia, falou, “sempre, fico aqui até tarde da noite, porque se não levar dinheiro, não posso entrar em casa.”
-Minha mãe, coitada, sete filhos, quatro mais novos que eu, tenho oito anos, ela está doente, acho que de fraqueza, não sei.
-Ontem quando eu ia logo ali, um homem se aproximou de mim, para aquela rua deserta me arrastou, eu gritei muito, ninguém me socorreu, mas quando ele me atacava, alguém se aproximou, nele colocou sua mão, e ele se paralisou, não sei o que houve, mas para casa corri, lá ainda apanhei, meu padrasto não perdoa, se não levar dinheiro não come, apanha e vai dormir com fome.
-Mas tia, eu jurei, vou estudar, vou ser alguém, e aos meus irmãos, ainda vou salvar.
Ainda me disse “Eu estou bem, mas acho que não mereço, e também para aquele que me salvou não posso agradecer, eu nem sequer o conheço”.
Quando me dei conta, o sinal havia aberto, meu carro já andava, e tive plena certeza de que com a menina nenhuma palavra eu trocara.
“Foi naquele instante, no toque dos dedos, no encontro de nossas almas que o milagre se deu, contou-me toda sua história, só com o olhar, sem nem uma palavra pronunciar, e eu nem pude lhe dizer quem a salvara, e que ela era um anjo, porque com certeza, os anjos sempre são protegidos por Deus...”
Lani