Quem
és tu, velha senhora,
Que fazes da calçada, tua casa, agora,
Não tens porta para abrir, não
tens conforto,
Mas, há sempre um sorriso, em
teu sulcado rosto...
De onde tanta força? Se és, só
fragilidade,
Cabelos brancos, gestos lentos,
sem agilidade,
O caos a tua volta, não te tira
a dignidade,
Nada pedes, só esperas, por um
gesto de bondade...
Pela manhã, teu desjejum é o
vento,
Teu almoço, o descaso, o desalento,
Teu jantar, a chuva e o relento,
E tua cama, a dureza do
esquecimento...
Quando a noite cai e surge a
primeira estrela,
Há lágrimas em teus olhos, soa o
sino da capela,
Relembras a vida, que um dia, te
fez plena,
E o toque macio, de uma mãozinha,
pequena...
Hoje enfim, irás ter, com a Mãe Maria,
Envolta no trapo velho, que no
frio, te cobria,
Abandonarás o corpo, que na laje
enrijecia...
Pedirás perdão, para quem, ignorava
tua agonia,
Passava, te olhava... Mas, nem
sequer... Te via...
Lani (Zilani Celia)