Assim que o dia vai embora, ela chega e lentamente como quem não quer nada, vai se esgueirando, encobrindo tudo, tomando conta, ela manda, ela é a rainha, a dona, a senhora.
Janelas se fecham, portas batem, todos a temem, correm como que a fugir, porque ela chegou, e com ela o escuro, o segredo, os amores clandestinos, os crimes, não há como medo não sentir.
Então tudo acontece, luzes, letreiros, um perfume no ar, carros a circular, amores que se oferecem, e o encantamento da noite, mais uma vez vai imperar.
Festas para todos os lados, tudo parece brilhar, como que a desafiar a noite, que por escura, não gosta nem das estrelas, que iluminando as ruas a querem anular.
Cada vez mais intensa ela fica, e a lua lá no céu, como uma pedra preciosa a enfeitá-la, é cúmplice de seus desmandos, e das artimanhas da noite, também é testemunha.
E a dama que é a noite se insinua, envolve quem por ela ainda se aventura, ao homem solitário que anda a procura, e a mulher que nua caça, como fera a espreita da vítima da rua.
Em cada praça que ela entra, transforma o que de dia era só alegria como o grito da criança, em fantasmagóricas figuras, esgueirando-se como almas penadas, a procura do nada, que é o que as alimenta.
E assim continua sua jornada, aos namorados ela brinda , com uma rajada de vento perfumada, e a madrugada que chega aos poucos silenciosa, tem medo da noite pois esta sabe que ela será para sempre sua mortalha.
Quando já quase a noite se acabava, houve-se um grito lancinante, uma vida se esvai caída na calçada, ela viu quem foi, mas vai ficar calada, sorri, pois para ela isto é apenas um incidente, sabe que voltará amanhã, e verá tudo, acontecer novamente!
Lani