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Recanto das letras

segunda-feira, 30 de abril de 2012

ABANDONO DA ALMA


Vem a noite, o sofrimento do dia termina,
Cai a chuva, fina, fria...
Vai aos poucos enregelando,
Embotando a mente que silencia...

A alma liberta abandona o corpo,
Veste-se de estrelas, sai levitando,
Um canto de liberdade entoando,
Sem perceber que está apenas sonhando...

Não quer voltar, não é vida...
Olha para ela no chão estendida...
Coberta por trapos, vencida...
Branca... Inerte... Maldita...

Ao romper da aurora a alma retorna,
Não pode abandoná-la assim, ir embora,
Acaricia seu rosto...  Já está quase morta...
Respira fundo... Estende-se sobre ela... E chora...

Lani

segunda-feira, 23 de abril de 2012

FLECHA MORTAL


   Não era assim que ele queria,
   Ter que lutar pelo que é seu,
   Só viver em harmonia,
   Agradecendo a seu Deus...                                  
                                                                          
   Das plantas retirar suas curas,
   Acreditar no Pajé e seus rituais,
   Na inocência da criança,
   E reencontrar seus ancestrais...

   Na mata cerrada e verdejante,
   Movimenta-se com agilidade,
   Esta é sua avenida, sem asfalto, sem carros, sem crimes,
   Sem assaltos e sem maldades...

   A criança aprende cedo, que deve obedecer a pai e mãe,
   Que a terra é sagrada, que a chuva é irmã,
   Que o velho é sábio,
   E que o animal, deve ser respeitado...

   Quando a flecha corta os ares, as folhas, flores e frutos,
   Sangram mais que o peito do homem,
   Que invadiu o lugar sagrado,
   A terra do dono, absoluto...

   O velho índio, do alto do morro observa tudo,
   Vendo, caído o branco que sangra,
    De joelhos se lança, beija a terra... Em luto,
   -Matei meu irmão... Também morro... Me perdoa “Tupã”...

    Lani

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A NOITE E A LUA



     Noite, porque estás assim tão pensativa,
     Com teu longo vestido, bordado de estrelas,
     Esvoaçando como a mais fina seda,
     Deslizando por teu lindo corpo de princesa?

     Noite, porque estás assim tão séria?
     Os teus cabelos de nuvens, prendeste antes que o dia raiasse?
     Porque teus olhos hoje, vermelhos, faíscam,
     Como se um temporal a tua volta se formasse?

     Noite, porque tanta tristeza?
     Se cativas a todos com tua cumplicidade e beleza...
     Se os envolves quando te enfeitas de rosas...
     E teu perfume, ao longe exalas?

      A noite... Responde á lua, tristonha!
     -“Por que, não tenho mais tua companhia,
     A madrugada roubou minha magia,
     E eu, agora me esvaio nesta aragem fria...”

     - E sei que amanhã, quando aqui novamente voltar,
     Chorarei, porque o que vivi hoje... Não poderei recuperar,
    Pois, por quem me apaixonei... Nunca mais irei encontrar...

      Lani

segunda-feira, 9 de abril de 2012

REI DEPOSTO

Coroei de prêmios minha vida,
De realizações me abasteci,
Só esqueci, de ao coração dar alegrias,
E de amores não o preenchi...

Com a soberba da juventude,
Com a ilusão da beleza,
Com conquistas materiais e inquietudes,
Construí meu castelo de areia...

Carente de sonhos, sonhados juntos,
Salas vazias, sem calor humano,
Cama pronta, sem ser desfeita,
Sem o riso alegre da companheira...

Passos lentos, agora incertos,
Braços vazios, sem mais abraços,
Olhos cansados, semicerrados,
Coração... Ah! Este pobre coitado...

Na solidão, buscando um consolo,
Na multidão, uma mão amiga, mendigando,
Um rei, sem rainha, sem súditos, sem castelo...
Um rei, traído pelo tempo... Deposto...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O ASILO


     Quando te vi entrar por minha grande porta, cabelos, brancos como algodão presos a nuca, passos pequenos, indecisa, mais parecendo uma criança, confesso, eu que sou com isto acostumado, fiquei com o coração doendo, apertado.
     Teus olhos súplices, com tristeza procuram os dela, que caminha firme, resoluta, não percebendo tua amargura, neste momento de angustia.
     Filha insana, que ora a mãe aqui abandona, nem olha para trás, desvencilhando-se, como de uma carga, agora incômoda.
     Esta mulher vencida, pelo que seria uma dádiva, ter muita vida, num corpo cansado, carcomido, encurvado, é aquela mesma, que nunca saiu de teu lado e um dia jovem te recebeu, te deu seu corpo, como doação maternal, com seu sangue e seu leite te alimentou e pela mão também a todo lugar te levou.
     Agora também o fazes, só que para este lugar triste é que a trazes e não como ela para ti o fez, levando-te a escola, ao teatro e ao cinema, tendo sempre um olhar terno e protetor, mesmo tendo muitos problemas ao seu redor.
     Enquanto filha não esqueças, que a vida para todos é efêmera e que a juventude se esvai numa cortina de fumaça, e a velhice logo chegará e te digo mais, é em nós que está toda a resposta, nascemos frágeis, precisando de amparo e no final, tudo se repetirá.
     Rogue a Deus, para que quando chegar a tua vez, teus filhos não tenham herdado tua pequenez e ao menos um com muito amor te ampare, embora ingrata... Para tua mãe, não tiveste esta honradez...    
     
    
Lani