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Recanto das letras

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A NOITE

    Assim que o dia vai embora, ela chega e lentamente como quem não quer nada, vai se esgueirando, encobrindo tudo, tomando conta, ela manda, ela é a rainha, a dona, a senhora.
     Janelas se fecham, portas batem, todos a temem, correm como que a fugir, porque ela chegou, e com ela o escuro, o segredo, os amores clandestinos, os crimes, não há como medo não sentir.
     Então tudo acontece, luzes, letreiros, um perfume no ar, carros a circular, amores que se oferecem, e o encantamento da noite, mais uma vez vai imperar.
     Festas para todos os lados, tudo parece brilhar, como que a desafiar a noite, que por escura, não gosta nem das estrelas, que iluminando as ruas a querem anular.
     Cada vez mais intensa ela fica, e a lua lá no céu, como uma pedra preciosa a enfeitá-la, é cúmplice de seus desmandos, e das artimanhas da noite, também é testemunha.
     E a dama que é a noite se insinua, envolve quem por ela ainda se aventura, ao homem solitário que anda a procura, e a mulher que nua caça, como fera a espreita da vítima da rua.
     Em cada praça que ela entra, transforma o que de dia era só alegria como o grito da criança, em fantasmagóricas figuras, esgueirando-se como almas penadas, a procura do nada, que é o que as alimenta.
     E assim continua sua jornada, aos namorados ela brinda , com uma rajada de vento perfumada, e a madrugada que chega aos poucos silenciosa, tem medo da noite pois esta sabe que ela será para sempre sua mortalha.
     Quando já quase a noite se acabava, houve-se um grito lancinante, uma vida se esvai caída na calçada, ela viu quem foi, mas vai ficar calada, sorri, pois para ela isto é apenas um incidente, sabe que voltará amanhã, e verá tudo, acontecer novamente!
    

                                                                                                                          Lani

domingo, 28 de agosto de 2011

VIDAS

     Vida, que trouxe Vida ao mundo, não pensou nem por um segundo, que sua vida iria mudar.
     Vida alimentou a Vida com seu leite, a carregou em seu ventre até com a vida a quis brindar.
     Vida sabia, que esta vida que nascia, a ela não pertencia, logo teria que para a vida a encaminhar e sem nada perguntar.
     Mas no momento da partida, Vida, que já sabia que de Vida iria se separar, beijou seu rosto com carinho, apertou-a de encontro ao peito, saiu chorando de mansinho, até Vida se afastar.
     Vida sabia que Vida, iria viver sua vida e nada podia mudar.
     Ela também sabia, que no dia em que Vida fosse ter outra vida, a iria procurar, pois Vida que um dia fora só filha , ao ser mãe teria outra vida para amar.
     Quando Vida soube que Vida, outra vida ao mundo iria trazer, ficou feliz, porque agora ela saberia, o que era por outra vida viver.
     Assim Vida, pensou que ao ter que ir, Vida outra vida teria, então compreenderia que ser mãe é até renunciar a vida para a outra vida viver.
     Com orgulho Vida, que no decorrer da vida três vidas gerou, teve certeza que sua história de vida para sempre se perpetuou!
    

                                                                                                                    Lani

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PACTO COM O VENTO

     Sempre é possível voltar atrás, mudar, reconsiderar tudo que já passou, pensar em recompor o que destruí sei que é em vão, mas estou muito arrependido, por isto peço  teu perdão.
     Já fiz coisas boas, uma vez trouxe um barco de volta que estava a deriva, na imensidão do mar, venci meus instintos e o arrastei, até um porto seguro encontrar e fiquei ali  parado, torcendo para o náufrago se salvar.
     Quando numa catástrofe me envolvo sou apontado como o culpado, e apesar de estar arrasado tenho que aceitar, mas esta outra força chamada homem também é responsável não teria que repensar?
     Voltei a lugares onde corria solto, por entre árvores e vegetação, mas lá não havia mais nada, só o vazio, terra seca, devastação, por isto fiquei mais forte, sem barreiras para passar, acabei destruindo gente, casas, escolas e a própria terra que seu dono, neste caso o homem não soube preservar.
     Já pedi a Deus que me parasse, nem que para isto precisasse me anular, eu que sempre tive orgulho de ser o vento, agora só me lamento, aqui não quero mais ficar, se meu único talento é o que eu estou a demonstrar.
     Quero ser um vento brando, crianças acariciar, pela flor passar de mansinho para não a desfolhar, quero ajudar o passarinho quando deixar o ninho para seu primeiro vôo alçar, e ser tão harmonioso como um bailarino a dançar.
     Com estes pensamentos, vou ao encontro do homem, combinar uma nova vida, vamos recomeçar, se ficarmos aliados podemos mudar, eu de meu lado juro, não vou mais arrasar, se fizeres a tua parte não vamos nos arrepender, porque a terra tens por empréstimo, terás que devolver, vamos mostrar a todos que vale a pena viver, quando o vento e o homem, conseguem se entender!


                                                                                                                 Lani

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

NOVA CHANCE

     Quando me avisaram que tudo estava acabado, que minha vez havia chegado, não consegui assimilar, esperneei, sapateei, gritei muito, não queria aceitar, é cedo ainda, não posso parar, fiz tão pouco, preciso continuar.
     Se soubesse que desta vida tão cedo partiria, melhor me prepararia, desprevenida não me pegarias, posso te garantir, por isto quero uma chance, não me leve ainda, preciso me despedir.
     Não amei ninguém, não concluí meus estudos, meus projetos não realizei, nem sequer doei meus objetos, não vou agora, me nego, implorei.
     Mas não obtive resposta, atrás de mim fechou-se uma porta, a minha frente um grande corredor se abriu me convidando a entrar, a luz era tão intensa, meus olhos ardiam, fui ficando mais leve, como a flutuar.
     Em uma sala muito clara adentrei, sem muito entender o que me acontecia, o meu filme começou, lá estava meu nome, era a minha vida, fiquei envergonhada com o que mostrou. “Só coisas ruins, desesperada indaguei, e onde está o que fiz de bom?” Ajudei velhos a atravessar a rua, dei esmolas, comida a quem precisou, afaguei a criança quando chorou, tenho certeza que me doei.
     O porteiro do céu após muito pensar, coçou o queixo, e concluiu:
     -Vais ter que voltar para lá, viver tudo de novo, terás uma nova chance, sem mais provas não posso continuar, se nada mais consta aqui no teu perfil, creio que nos teus momentos bons eu errei, em vez de salvar, deletei, ou então foi a internet que caiu...
                                                                                                                       Lani

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A PROCURA

     O homem seguia pela estrada poeirenta, as vezes a tropeçar, o sol em suas costas ardia, sua cabeça fervia, seu corpo doía, já quase a delirar.
     O caminho era sem fim, aonde ia e quando chegaria ele não sabia, mas uma certeza o movia, precisava caminhar.
     Ele queria chegar a tempo, e mesmo quase morrendo seguia, não podia falhar, se parasse agora, seria o fim de seu tormento, mas ele ia,tinha que continuar.
     E assim o homem tremendo, quase desfalecendo, sem forças ia, a andar, já caminhava a dias, comia quando podia, suas roupas em frangalhos, com olhar de fera ferida que luta pela vida, sem uma lágrima a derramar.
     Seu coração doía, mas ele sabia o porquê do caminhar, e assim seguia em frente, e apesar do sol ardente, não podia parar.
     Quando a noite caía e o sol se escondia, seu corpo exigia, precisava descansar, respirava fundo, procurava um canto, e apesar do medo deitava e dormia porque no outro dia tinha que recomeçar.
     Já caminhava há tanto tempo, sem família e sem alento, o único carinho era do vento antes de chover, mas logo depois o açoitava, sua pele rasgava, o sangue a escorrer, e ele ali, só, desamparado, sem ninguém para o socorrer.
     E foi assim neste momento, já quase inconsciente que dele no caminho um velho se aproximou, colocou a mão em seu ombro ferido, dizendo, filho querido, estou contigo, sempre te acompanhei, velei teu sono, te amparei quando caíste, te alimentei, matei tua sede, mas  não impedi teu caminhar.
     Sei que só procuras a ti mesmo, aceita a mão que te estendem, pare de sofrer, não estás só no mundo, há muita gente a tua volta, precisas compreender, se não parares agora nas estradas da vida te perderás, aí meu filho, nunca mais te encontrarás!
    
                                                                                                                        Lani

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O DIVÓRCIO

   O amor depois de muito pensar, desafia o ciúme para lutar, o ciúme aceita e como sempre traiçoeiro tenta de surpresa o atacar.
     Eu sei amor que pensas, ser dos sentimentos o mais forte, mas hoje vou te confessar, muitas das vezes que achaste estar só, eu estava lá, conseguindo te enganar e sorrateiramente te arrasar.
     Quando chorei em teus braços, falou o ciúme, não foi por outro sentimento, foi fraqueza momentânea, nunca por arrependimento.
     A platéia empolgada aplaudia contente, pois a muito tempo não via, algo assim tão comovente.
     Vai ser um duelo mortal, disse a imaginação, será a luta de um sentimento, contra uma grande instituição, o mais forte vencerá, falou a compreensão.
     Escondida sorrindo espiava, a tenebrosa agressão, sabia que para este caso não havia celebração, mas como sempre, deixava para o final, sua gloriosa apresentação.
     E assim os sentimentos experientes, após muito pensar, chegaram a conclusão que não dava para achar, neste duelo importante, quem seria o culpado, e quem o inocente?
     -Se não viesses tão forte, tão arrebatador, o ciúme com certeza, não teria te cegado, amor!
     Por isto o doutor verdade, deste caso o promotor, acusa o réu, o ciúme pelo crime praticado, falando com veemência, para que o entendessem os jurados, citando o pequeno carinho, que sofria, tão acabrunhado.
     -Que seja preso o réu, fique incomunicável, o condeno a prisão perpétua, se possível a trabalhos forçados, falou o juiz emocionado, ao saber naquele instante, que o ciúme violento, seu intento conseguira, o amor por ele ferido, naquele exato momento morria! 

                                                                                                                  Lani    

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

MEU PAI

               
 Hoje, recordando minha vida com ele, senti um grande vazio e muita saudade.
     De manhã quando acordava, na mesa ele já estava sempre a me esperar, com um sorriso grande, um copo de leite quente, um amigo com quem podia contar, eu sabia que este gigante não era de história em quadrinho, este era real e era o meu pai.
     À medida que eu crescia, ele se apequenava, estranho na certa eu achava, mas nem parei para pensar, que enquanto eu crescia, ele envelhecia, não podia mais me acompanhar.
     Quando criança, tuas histórias eu pedia, e agora ao contares uma, antes de acabares já estou a me levantar, me dou conta, volto, mas vejo em teus olhos tristes, que percebestes, mesmo assim, me olhas e sorris sem nada reclamar.
     Penso nos raros beijos que te dei, e os abraços foram poucos também, mas chorar agora não adianta, nem dá mais para me desculpar.
     Aqui, tu não mais estás, nada posso modificar, o que fiz já está feito, o que não fiz é impossível recuperar.
     Mas nesta noite custei a dormir, na madrugada, notei um vulto e assustada me levantei, era meu pai que ali estava, dizendo “ Filha, te ouvi chorar, mas para não te acordar meu retrato em teus braços coloquei, assim de manhã verias que como sempre teu sono eu velei.”
     Então emocionada, vi que realmente eu estava, com seu retrato abraçada, que bom, foi tudo um sonho, acordei, e assim como em criança, fechei meus olhos, lhe dei um beijo e em seu colo me aconcheguei!
    
                                                                                                                                                                
                                                                                                              Lani  

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O pai

     Podes me dar um segundo? Estou aqui a te observar, jogado no chão a brincar com teu filho, que grita feliz, pulando em volta de ti, achei muito bonito, a ponto de me contagiar.
     Tu o beijas enquanto ele brinca, teus olhos brilham, e ele nem percebeu, é pequeno, e com um brinquedo está distraído, mas logo depois se atira em teu colo, e rolam juntos no chão a se divertir.
     Que bom que ages assim com teu filho, não terás como eu o que lamentar, sei que para ti não fiz isto, sou de outro tempo, só dei a ti o que recebi de meu pai, roupa, estudo, alimentação e muito respeito, era o que ele tinha para me dar. Não o culpo, por ele guardo muita admiração, pois só não viu como eu, que faltavam os beijos os abraços e até rolar pelo chão.
     Quero que hoje entendas, sou de outra geração e vendo o pai que és para teu filho, só posso te pedir perdão.
     Não posso como gostaria de com vocês no chão ir brincar, minhas costas não deixam, meu joelho não dobra, meu tempo passou, não vai voltar.
     Resta-me ao menos fechar os olhos, e me imaginar, aí brincando, jogado no chão, rolando e em meu sonho aos dois proteger e acarinhar.
     Não te amei menos tenha certeza, só não soube te demonstrar, sei que perdi muito nesta vida, não tem como recuperar, mas meu filho, eu nem sabia como era bom, ficar  jogado no chão e contigo brincar, rolar, beijar e muito te abraçar!

                                                                                                                                Lani

sábado, 6 de agosto de 2011

" O rio e o mar "

     Um dia, o rio carrancudo, inicia uma franca conversa, com o imenso mar.
     Diz o rio:
     -Porque tens mais água que eu? És maior? Tens mais força? Se estou aqui a te empurrar e o máximo que consigo, é ali no ponto em que termino,  contigo me misturar?
     -Por ti, navegam navios, transatlânticos imensos, tua profundidade então, nem dá para calcular.
     Se chove muito, tento segurar mais água, para contigo me assemelhar, mas ela sai, transborda, vai embora, sem nem olhar para trás. Não sou tão profundo, também a água da chuva, deve contigo me comparar.
     No verão, tuas praias repletas, todos de frente a te reverenciar, orgulhoso, fazes ondas imensas, para te fazer admirar!
     O mar, então, com voz forte, respondeu:
     -Sou forte, corro em volta do mundo, todos me admiram, em mim se lançam para ver o que tenho de mais profundo.
     -Veja rio, tu que estás aí a te lamentar, com inveja de minha grandeza, profundidade e beleza, não estás conseguindo ver, ali, em tua margem uma criança sorri, matando sua sede, é maravilhoso, não tem preço, e isto rio, eu nunca poderei fazer!

                                                                                                            Lani

" Amor adolescente "

     Porque te amedrontas com o amor, se ele é apenas um sentimento?
     -Ele é devastador, perco a razão, quando assim  me sinto, faço coisas ruins se o deixo tomar conta de mim. Sinto ciúmes, tenho raiva, brigo e até em público já chorei.
     -Minha família, ao tentar me afastar, mais dele me aproxima.
     -Meus amigos, querem me fazer ver, que para mim ele não serve, então deles também me desliguei.
     -Na escola, os professores, tentam me alertar, dizendo que eu estou diferente, mas é porque não conseguem ver que eu estou apenas apaixonada.
     -Um dia, ao vê-lo com outra, cheguei a rasgar meu caderno de tão furiosa, era ali, que eu escrevia, sobre o amor que por ele eu sentia.
     A noite em minha cama, após derramar muitas lágrimas pensei:
     -Estou só, sem amigos, não saio, não danço, não vou ao cinema, não cuido de meus estudos, numa chata me tornei, ninguém quer estar comigo, minha vida devastada, como provar a eles, que era amor, só que, mais uma vez me enganei?
     -Ao lembrarmos desta fase, de sentimentos fortes, turbulentos, realmente sofremos, porque éramos apenas jovens, querendo crescer, nos entender, a procura de um grande amor, e uma vida plena para viver!
                                                                                                                                   
                                                                                                                             Lani

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"O espetáculo"

     A cada espetáculo de circo que vejo, volto no tempo e uma grande emoção de mim toma conta.
     É um encantamento! A música, as luzes, a corda bamba, o globo da morte, lá no alto o trapezista... É inebriante! Coisas que me reportam ao tempo de infância.
     Aplaudo, olhos brilhando, emocionada como qualquer criança.
     Mesmo encantada com o que vejo, uma figura me chama a atenção. Lá, do outro lado do picadeiro, num canto, sentado no chão, tendo nos braços um cãozinho, vejo um palhaço, rosto ainda pintado. Mesmo assim, noto lágrimas correndo.
     - Porque choras? Se há pouco estavas lá no picadeiro, ri muito contigo e teu amiguinho?
     - Eu consigo entender que tudo acabou, mas ele, o cachorrinho, quer lá voltar, não sabe que terminou.
     - Mas como, se lá tem um palhaço, e o cão é igualzinho a este?
     - Aqueles são os novos, respondeu-me.
     E completou: - Eu e meu cãozinho envelhecemos, paramos, mas ao ouvir os gritos das crianças, a nossa música e os aplausos, ele quer no picadeiro voltar e tenho de segurá-lo. Por isto choro. Ele não sabe que acabamos de fazer nosso último espetáculo!
                                                        
                                                                                         Lani

terça-feira, 2 de agosto de 2011

" O ARQUIVO DA VIDA"

     Hoje, ao abrir o arquivo de minha vida percebi o que sempre ali esteve mas não via.
     A letra, com certeza não era a minha. Na parte em que eu era um bebê, era minha mãe quem escrevia e, em partes, era meu pai. Isto muito me comoveu.
     A medida em que eu lia, a letra mudava. Já muitas coisas escritas por mim, ali estavam.
     Na parte da juventude e da maturidade, a letra de tudo o que estava escrito era só a minha, o que me fez ver que neste momento andei só e escrevi minha própria história.
     Li de novo tudo o que estava no arquivo e, no final, pude ver que muitas folhas ainda estavam em branco.
     Ao abrir aquela antiga gaveta da memória onde guardava meu arquivo, notei num cantinho, muitas folhas, que estavam prontas, já escritas.
     Por curiosidade as peguei e, ao fixar os olhos, nada pude ver. As letras pareciam de ouro, brilhavam muito, mas eram de meu arquivo, tive certeza!
     - Será que o final de nossa história está ali, o tempo todo, ao lado de nosso arquivo da vida, e já completamente escrito?
                                                                                              Lani