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quarta-feira, 29 de abril de 2020

QUARENTENA ( III )!


Destranco a porta, relutante a empurro,
Ponho os pés na calçada, num pulo,
É noite, recebo a brisa em cheio, no rosto.
Respiro fundo, saboreando, seu cheiro e gosto...

Encantada e livre sigo andando,
O lago está limpo, não o estou reconhecendo,
Os bancos da praça, agora, são todos brancos,
Há flores, há frutos, lindos patinhos e gansos...

Continuo, subindo a rua onde moro,
Alguém se aproxima, vestido de branco,
Tem no peito um crachá, uma máscara no rosto,
Rápido some na porta, do hospital ali perto...

Penso, só quero ir e vir, tenho esse direito,
Estou tão feliz, curtindo o momento,
Vejo um homem no chão, deitado ao relento,
Ao seu lado uma placa, ”fique em casa”, dizendo...

Ainda no escuro, de meu sonho, fui acordando,
Sentindo, a energia do mundo, se refazendo,
Sei, que o monstro lá fora, vai acabar morrendo,
Me abraço tranquila, novamente... Adormecendo...
        

 Lani (Zilani Celia)

sábado, 4 de abril de 2020

QUARENTENA! (II)


Pela janela, espreito a rua deserta,
É minha triste moldura, mesmo aberta,
Há vida e sol, correndo lá fora,
Estou aqui presa, sem tempo ou hora...

Em minhas mãos, aperto a chave, da porta,
Basta-me um passo, para transpô-la,
Meu espírito, livre me incita,
-Venha, vamos embora, acredita...

-Não há para onde ir, eu retruco,
Há um inimigo lá fora, oculto,
Sem pena, põe o mundo, moribundo,
Traiçoeiro nem diz, de onde, é oriundo...

Fecho lentamente, minha cortina,
Uma lágrima surge, fugaz, repentina,
Na mente a imagem, da minha menina,
Sinto-me frágil, só, pequenina...

O telefone toca, nele ouço a voz, tão amada,
É minha filha, por um vírus, de mim afastada,
Do outro lado da linha, como eu, ela  chora,
E meu abraço carente... O dela implora...


        LANI (Zilani Celia)